O que você fala, não é o que outro escuta
"Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou." Jacques Lacan.
A linguagem é uma habilidade humana que propicia uma comunicação altamente eficaz. Ainda assim, não pode-se dizer que nossa comunicação é perfeita. É comum sermos mal interpretados e, a partir disso, é possível que discussões e desentendimentos sejam originados. A verbalização é um processo complexo no qual organizamos ideias e abstrações em um padrão lógico determinado e compreensível para outro humano. Mediante esse processo é possível que o falante não se expresse adequadamente ou fidedignamente às suas ideias. Contudo, ainda que sua fala seja coerente com sua intenção, um outro empecilho ainda mais complicado surge, que é a condição do ouvinte. Enquanto ouvinte, tudo que é percebido, é interpretado pela lente particular desse indivíduo, que com certeza não é a mesma ótica do falante. Afinal, cada um de nós somos indivíduos com experiências singulares e próprias. Somos únicos, tudo que captamos está sendo percebido através de nossa própria visão, que é produto de toda nossa história e cultura, não podemos ter certeza absoluta de que o outro de fato compreendeu a mensagem da forma que o falante tentara passar. Quando falamos sobre coisas materiais, a congruência entre fala e escuta é mais fácil de ser alcançada. Entretanto quando falamos de sentimentos e outras coisas intangíveis, a percepção do discurso é embasada em um conceito muito individual. É possível se expressar com objetividade, dinamismo e riqueza descritiva para auxiliar a compreensão do próximo. E é essencial escutar pacientemente, atentamente e empaticamente a fala do outro para poder gerar um momento de comunhão, conexão, sintonia, compreensão e trocas sinceras.
Não fazer o que você sente vontade de fazer é liberdade
Essa afirmação de Chinmayananda pode soar estranha, afinal de contas se pensarmos de maneira concreta, como se poderia ser livre quando se tem vontade de comer, por exemplo, e não se pode fazê-lo? Não seria isso o oposto de liberdade?
Um paradoxo se forma quando, por outro lado, considera-se que se a pessoa está refém de uma vontade e necessita supri-la, não estaria ela, então, aprisionada e sem possibilidade de exercer a liberdade de escolha? Ela até poderia escolher como suprir sua vontade, mas não teria como escolher entre ceder ou resistir a ela.
Com isso, deve-se considerar que há uma linha tênue que divide necessidade e vontade. Comer pode ser uma necessidade ou uma vontade.
Comer apenas quando necessário parece cruel. Saciar a vontade de comer, porém, é extremamente prazeroso.
A frase hinduísta se encaixa exatamente nesse ponto: o prazer. Ainda nos dias de hoje, em que principalmente no ocidente, somos verdadeiros reféns do prazer. Estamos cada vez mais distraídos, sedentos por estímulos sensoriais, inebriados por cadeias reativas sem fins.
Ler um livro, assistir um filme, ouvir músicas inteiras ou ter longos diálogos parecem ser atividades crescentemente complexas. Evidentemente a indústria atualiza os produtos de forma que se enquadre mais aos padrões de consumo, criando filmes mais frenéticos, músicas mais curtas e livros mais fáceis, reforçando a criação de um ser humano menos tolerante ao silêncio, ao tédio, à frustração. Além de mais desfocado, alienado, ausente e dependente, preso às regalias distrativas que existem.
Ser capaz de não fazer o que se tem vontade, é um poder humano que nos permite o presente, a atenção, o foco, a liberdade de fazer o que se quer de fato, sem ser coagido indiretamente pelo comodismo da satisfação sensorial momentânea que gradativamente quebra pilares importantes da humanidade.
Ser capaz de suportar a frustração de um desejo com firmeza, de aceitar a impossibilidade de uma vontade com decência, de encarar situações aversivas com gana em prol de um fim verdadeiramente querido, são exemplos de potenciais degradados pelo padrão do comportamento imediatista e consumista.
O que você de fato almeja e não consegue realizar pois está preso ao que lhe entrega prazer apenas no agora?